Lamentavelmente, quando chegávamos ao final de 2021 ávidos para o encerramento de um ciclo marcado por mais um ano de um país desgovernado, dois anos da pandemia da COVID19, as dificuldades colocadas pela educação não-presencial, sonhando com um 2022 mais esperançoso, submergimos atônitos em mais uma tragédia que se abateu sobre o já sofrido povo do sul da Bahia, especialmente o mais pobre e vulnerável:
Segundo dados da Defesa Civil do Estado divulgados na quarta (29/12), 24 pessoas morreram, 53,9 mil ficaram desalojadas e 629 mil foram afetadas de alguma forma pelas enchentes. Apenas no dia de Natal, a cidade de Ilhéus, uma das localidades mais atingidas, registrou mais chuva (136mm) do que o acumulado durante o mês de dezembro inteiro em 2020 (118mm) e em 2018 (131mm). Os dados são do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-598042970)
Levantamento de cidades afetadas pelas enchentes com os respectivos números de mortos (Portal G1, 29/12/2021) |
De acordo com as interpretações do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) passamos por 3 ondas de chuvas intensas causadas pelo que chamam de Zona de Convergência do Atlântico Sul. O meteorologista Willy Hagi, em depoimento à BBC, associa essa explicação com efeitos do La Niña que, embora se apresente com algumas variações, ocorre nessa época do ano e pode ainda permanecer causando traumas na região nordeste:
“Saímos de uma La Niña entre o final de 2020 até Maio de 2021, que foi responsável pela maior Cheia na Amazônia nos últimos 120 anos, para entramos em outra agora que está prevista para durar pelo menos até o primeiro trimestre de 2022. Isso soa o alarme para mais um período de chuvas elevadas e com todas as consequências socioeconômicas que estão ligadas, desde alagamentos a perdas de vidas humanas”, afirma Hagi. (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-598042970)
As chuvas ocorridas no início de dezembro, que atingiu fortemente o Extremo sul da Bahia (Prado, Itamarajú, Eunápolis e outras cidades) mas provocou danos fortes igualmente na região chamada Sul da Bahia (Itabuna, Ilhéus), se repetiram de maneira arrasadora às vésperas do natal.
Essa repetição do volume maior de precipitação nesse período certamente contribuiu para a tragédia ocorrida, porque mal deu tempo para que as águas fossem absorvidas no solo ou encaminhadas pelos córregos aos rios e esses ao mar.
Essas precipitações, explicadas acima pelos meteorologistas, podem ser decorrentes de mudanças climáticas que estão em curso no planeta (veja as chuvas que arrasaram regiões da Alemanha ao sudeste asiático recentemente e outros exemplos). Entretanto, elas certamente são agravadas pelas condições de intervenções antrópicas: o desmatamento e a destruição das matas ciliares em nossos rios, com a chegada de pastagens até as margens nas áreas rurais, por exemplo, faz com que a velocidade das águas nos leitos se acelerem e não sejam retidas mais à montante desses cursos de água.
Quando chegam às cidades, encontram uma situação de emparedamento desses córregos que são canalizados ou até "tamponados" (tampas de concreto e asfalto) criando as vias de fundo de vale sobre os rios. Isso aumenta mais ainda a velocidade das águas e, combinado à impermeabilização do solo (pavimentação de ruas, adensamento com edificações, quintais das casas e condomínios com calçadas, em vez de jardins), não permitem a drenagem natural dessas águas e invadem ruas e casas.
As consequências são sentidas por toda a sociedade: os atingidos diretamente, as pessoas solidárias, o poder público. Estado de desolação completa, conforme se vê nesse vídeo da BATV:BATV (Globoplay): Prefeitura de Itabuna, na Bahia, cadastra famílias mais afetadas pelas chuvas.
Outra questão gravíssima é o uso desses cursos d'água como depósito móvel e flutuante de lixo e entulho. Observamos, por exemplo, a chegada nas praias de Ilhéus, como "destino final" dessa irresponsabilidade e ausência de educação para a cidadania ambiental, a chegada de parachoques de carros, tubos de TV, portas de geladeiras e sofás,.
As Baronesas (Eichornia crassipes) que são arrastadas e entregues ao oceano, mostram um retrato da incompreensão que nosso povo tem sobre os processos de causa-efeito em que todos estamos envolvidos.
Nesse final de 2021 as Baronesas trouxeram também, e em massa, importantíssimos amigos da natureza, os caranguejos. Voluntários e entidades, como o GAP (Grupo Amigos da Praia) de Ilhéus se mobilizaram para recolhê-los e devolvê-los para seu habitat natural, onde contribuem para o equilíbrio ecológico dos mangues.
Mas o que podemos fazer?
Qual o papel da universidade e dos arquitetos, engenheiros, assistentes sociais, advogados e tantos outros?
Darei minha opinião no próximo post.
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