"Campo das Artes: saberes e práticas" no CUNI Itabuna: o que virá pela frente?

Ousadia diante do contexto da formação básica.

O Componente Curricular "Campo das Artes: saberes e práticas" possui na UFSB uma meta ousada, e ao mesmo tempo, singela.
Meta ousada porque, ao ser oferecido já no primeiro quadrimestre da entrada dos estudantes na universidade, tem como desafio mobilizá-los em estudos e práticas que foram relegadas a papéis secundários durante o ensino básico.
Sabe-se o quanto o ensino das artes é desprezado durante os anos iniciais da educação básica, com carga horária muito baixa, quando comparada às horas destinadas ao letramento em português e matemática, disciplinas essas que se demonstram ser a preocupação quase exclusiva do ensino regular. Não nos esqueçamos que sequer há professores preparados para o ensino das artes nessa fase.
Lamentavelmente, a alfabetização das crianças tem um enfoque quase exclusivo em letras e números. Já a iniciação artística, que permite a  expressão em desenhos, música tocada e cantada, expressão corporal, criação de objetos tridimensionais, são destinados, quase sempre, a momentos de recreação.
A expressão artística não é priorizada como fator de formação de identidades, preparação para a cidadania, e é ignorada como capacitadora para o mundo do trabalho.
A fábula da cigarra (cantora e inconsequente) e a formiga (trabalhadora e prudente) assombra como um pesadelo as mensagens que estão longe de serem subliminares.
É nesse contexto que os estudantes do ensino médio chegam à universidade, quase todos alegando não saber desenhar (nem a mão livre, nem com instrumentos usados na geometria, como régua e compasso), tocar um instrumento ou reconhecer a linguagem em que se produz música (partituras, cifras), ter vergonha de dançar, e de mostrar uma habilidade artística desenvolvida.

Meta ousada é o que traz esse CC Campo das Artes em sua Ementa ao pretender:

• Discussões em torno de conceitos de arte que serão sempre articulados com conceitos de território e paisagem.

• Modos de atuação das artes na história e na contemporaneidade.

• Apresentação de diferentes repertórios construídos pelos diversos campos artísticos, na investigação acadêmica, na educação, na atuação profissional, nos saberes e práticas dos povos tradicionais, na cultura popular urbana, na cultura de massa e em pesquisas artísticas de modo geral.

• E a apresentação do primeiro ciclo em Artes da UFSB.

Singela é a forma de resgate da arte para a vida acadêmica interdisciplinar.

Mas o singelo está no ato de fazer essa necessária reaproximação com o mundo das artes a despeito desse contexto vivido na educação básica brasileira.
A Equipe Docente desse CC na UFSB está ciente: da herança da educação básica; dos limites do curto período de tempo; das características próprias desse CC  - que é oferecido também como cultura complementar (para detalhes ver Plano Orientador da UFSB) aos estudantes das Licenciaturas Interdisciplinares, das Humanidades, das Ciências e da Saúde, além dos bacharelandos de Artes.
E os docentes se colocam como objetivo mobilizar os seus alunos em um envolvimento tranquilo e evolutivo, emotivo, ampliando o repertório, mas não sendo enciclopédico, e que  aponte caminhos para um futuro aprofundamento dos temas apresentados a eles.
Durante as doze aulas previstas, algumas serão expositivas, outras de pesquisa e produção própria dos estudantes. Serão realizadas observações, audições, de obras de arte nos espaços públicos, em museus e galerias, teatros, em estúdios de artistas populares, com o destaque para a produção regional, dos mestres da cultura popular negra e indígena.
Ao final, deve culminar com o projeto e execução de uma obra de arte contemporânea coletiva, usando a cidade como espaço de exposição/intervenção.
Ousado, mas singelo.